quinta-feira, 11 de junho de 2009

TURISMO RELIGIOSO - ATRAÇÕES DA CIDADE DE CANINDÉ



Fervor. Esta é a primeira sensação que o visitante tem ao chegar a Canindé, cidade encravada no semiárido cearense. De clima quente, com temperaturas variando entre os 24 e 32 graus, o sol é o companheiro inseparável dos romeiros que se aglomeraram pelas ruas estreitas durante os 10 dias de comemoração em homenagem a São Francisco das Chagas.

A cidade, que deve muito do seu desenvolvimento à devoção dos nordestinos, construiu, ao longo de anos, várias edificações que se tornaram pontos turísticos religiosos. Eles demonstram a história culturalmente rica de um povo humilde, que tem na fé a São Francisco sua característica principal. Estátua do padroeiro, a Basílica, a Casa dos Milagres, a Praça dos Romeiros, as igrejas menores (Igreja Nossa Senhora das Dores e Igreja Cristo Rei ou do Monte), o Museu, o Zoológico compõem o roteiro turístico e religioso de quem vai ao município. Estes locais são pontos de oração e entretenimento para os milhares de peregrinos.

A estátua de São Francisco, inaugurada há dois anos, é uma parada obrigatória. Considerada o maior monumento religioso do mundo, a construção mede exatos 30,25 metros. Com mãos postas em benção, a obra sacra teve como escultor o artista plástico Bibi e projeto arquitetônico de Expedito Deus dará. Localizada no Morro do Moinho, ela pode ser vista pelos romeiros quando eles ainda estão na estrada, há uns 10 km de distância da cidade.

A suntuosidade da obra é motivo de orgulho para os moradores da região. “Saber que a nossa estátua é a maior do mundo enche-nos de alegria”, fala com vaidade a guia turística Neila Lopes. A réplica do santo fascina, emociona, renova a esperança de um povo. São crianças, jovens, adultos, idosos, todos em volta de São Francisco num momento de fé e de orações.
Em Canindé, todos os caminhos levam à Basílica

O maior templo franciscano Latino-Americano teve sua construção iniciada ainda no século XVIII, ano de 1775. O seu interior é exuberante, um patrimônio da arquitetura nordestina, com seus afrescos, vitrais e a imagem de São Francisco abaixo da figura de Cristo de braços abertos. Os romeiros, aglomerados, fazem o imenso santuário parecer pequeno, tamanha a fé, oração, súplica, esperanças e recordações. “Quando chego aqui, me sinto em paz comigo, minha fé se renova”, declara a professora cearense, Leila Maria, que visita pela terceira vez a cidade.

Outro ponto concorrido pelos fiéis que visitam Canindé é a Casa dos Milagres, localizada no Complexo São Damião, ao lado da Basílica de São Francisco das Chagas. O ambiente possui uma áurea de fé que instiga até mesmos os mais céticos. Foi lá que encontramos a aposentada Leonora Rodrigues da Silva, 68 anos, exemplo da peregrinação em torno de São Francisco. Nascida em Fortaleza, ela mora há 20 anos no Maranhão e viajou até Canindé para cumprir sua promessa. “Tinha problemas no coração, meu corpo todo estava chagado, mas Deus e São Francisco me curaram”, relatou a fiel, enquanto sua filha cortava parte de seus cabelos para jogar na Casa dos Milagres.

Quem vai até lá também aproveita para sair literalmente abençoado. Seja uma imagem, um objeto, ou mesmo o corpo, os romeiros esperam em fila indiana o momento de receberem uma rápida unção. “Sinto-me abençoada por Deus e São Francisco”, declara a dona de casa Maria Margarida da Silva. De acordo com frei Edson a motivação das pessoas é a sensação de estar em paz com Deus.

Canindé é repleta de outras igrejas de menor porte. Próximo a Basílica está a Igreja Nossa Senhora das Dores, a mais antiga da cidade, com a pintura de Cristo crucificado num painel de oito metros de altura por cinco de largura, que chama atenção dos fiéis. É deste ponto que começa a Via Sacra do Monte, de onde muitos romeiros iniciam seus sacrifícios. Alguns chegam conduzir até pedras sobre a cabeça, numa provação para cumprimento de promessas. Seu fim é no alto da cidade na Igreja Cristo Rei ou do Monte, que apresenta em seu interior imagens, esculturas e um altar de grande beleza, outra atração para os visitantes.

Hospitalidade de Canindé

Boa parte da visitação aos pontos turísticos religiosos pode ser feitos a pé. Nessa “peregrinação” os romeiros podem ir conhecendo melhor a cidade, as histórias do povo, passando pelas infinidades de pontos de vendas, com comerciantes sempre com um bom argumento para conquistar clientes.

Como a cidade é bastante quente, algumas casas de banho estão espalhadas para refrescar os turistas, é o caso da Pousada de Apoio à Família. No estabelecimento os visitantes podem pagar para tomar um bom banho e prosseguir seu “tour” religioso por Canindé. Foi o que fez a fortalezense Maria de Fátima Souza Brandão, que veio pagar promessa. “Ter um local assim é bom, podemos tomar banho e descansar”, relatou.

Mas o povo canindeense é também um povo hospitaleiro. E nossa equipe de reportagem provou isso na pele. Cansados, depois de uma manhã de trabalho, paramos no salão de beleza da dona Claudia, onde tivemos a oportunidade de ouvir histórias, coletar informações importantes da cidade e ainda fomos agraciados por um providencial chuveirada. “Nós adoramos receber o povo, somos um povo da fé assim como São Francisco”, relatou a cabeleireira.

Canindé, nos últimos anos, vem se preparando de forma eficaz para atender ao turismo que cada ano cresce em interesse de visitar o município. Ao todo são sete hotéis. Aquarela Palace Hotel é o maior deles. Localizado no Centro da cidade conta com um atendimento especializado e uma infra-estrutura de 60 apartamentos. Além do Aquarela Palace, a cidade disponibiliza pousadas, casas alugadas dos moradores e dois abrigos cedidos pela paróquia. De acordo com o presidente da Funtec, Anastácio Pereira, os dois abrigos, o de São Francisco e o de Santo Antônio, têm capacidade, respectivamente, para 3 e 4 mil pessoas. Em ambos o romeiro pode passar um dia sem despesas, podendo assim ter um local pra descansar, almoçar, tomar banho.

Momento de lazer

Com excelentes opções de restaurantes, como o Sabor da Terra, Churrascaria o Cajueiro e Alô Alô, a comida tipicamente cearense é destaque com o bom baião de dois, a farofinha e a carne de sol bem assada.

Com um cardápio variado e atendimento de primeira, o Bar do Leão, localizado em frente ao zoológico, torna-se um ponto de encontro para os visitantes, sendo uma boa pedida para os romeiros que visitam a cidade. Alias é no zoológico que muitos romeiros descansam sob a sombra dos cajueiros após o almoço. O local é propício para o bate-papo com os amigos, aconchego dos casais e um bom ambiente para descansar. Foi o que fez a família do aposentado João Mota. “Há quarenta anos venho para Canindé cumprir minhas promessas e passear com a família. Gosto da cidade e sempre que posso paro no zoológico”, relatou o romeiro, vindo de Tururu, distrito de Itapipoca. O espaço também é atrativo para as crianças que admiram fascinadas cada jaula de animais, além de alegrarem o local com suas brincadeiras.

A viagem santa

O céu ainda estava escuro. O pau-de-arara saiu de Pentecoste com destino a Canindé, levando na carroceria romeiros com suas dores, seus clamores, histórias de vida e súplicas. Em comum, a fé no homem que viveu o Evangelho e teve o mais rápido processo de santificação da Igreja.
Entre os 40 fiéis estava a família de Etevaldo de Sousa Menezes. Há dez anos, o romeiro faz esta peregrinação a Canindé para pagar promessas e também para festejar o aniversário de seu pai. “Passamos o dia, aproveitamos a cidade, oramos e depois voltamos para casa”, contou o fiel.

A viagem é difícil, muitas vezes desgastante por conta das estradas e pelo pouco espaço, mas os romeiros que viajam em paus-de-arara, veículos que há séculos cortam as estradas nordestinas, acreditam que a fé em São Francisco é o conforto que eles precisam e encontram para seguir adiante.

O pau-de-arara muitas vezes serve de abrigo para os romeiros. É na carroceria do veículo que eles fazem as refeições e tiram a sesta no improviso: em redes, colchonetes ou até nos bancos. Alguns trocam as experiências vividas na cidade com os amigos, parentes ou mesmos com desconhecidos, já que estão unidos pela fé ao santo São Francisco. Exemplo disso é o romeiro Luis André, de Pentecoste, que trouxe sua família para vivenciar pela primeira vez a mística da fé local. “Descansamos um pouco, conversamos sempre unidos pela fé a São Francisco”, contou o fiel enquanto suas filhas brincavam na boleia do carro.

Um comentário:

Hercilia Duarte disse...

muito interessante essa comemoração em caninde, la voce pode perceber ate onde vai a fe das pessoas... é emocionante.. parabens pela matéria...